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No fascinante livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, Daniel Kahneman dá um exemplo de como nosso pensamento pode cair em armadilhas: em um experimento, especialistas imobiliários foram chamados para avaliar uma casa que estava à venda. Eles visitaram a casa e analisaram um material com diversas informações sobre o imóvel, que incluía o preço pedido pelo proprietário. Para metade dos especialistas foi mostrado um preço de venda substancialmente superior ao preço pedido; a outra metade viu um preço substancialmente mais baixo. Quando questionados, os especialistas afirmaram que o preço pedido não havia influenciado suas avaliações, mas eles estavam errados: o grupo que viu o preço mais alto avaliou a casa significativamente acima do segundo grupo (o efeito chamado de “ancoragem” foi de 41%)¹.
Quando pensamos em decisões de investimento, principalmente feitas por especialistas, imaginamos decisões altamente racionais. Processos que envolvem a avaliação do valor justo de um determinado ativo, considerações sobre potenciais riscos e prejuízos associados aos diferentes cenários, busca por diversificação em mercados e regiões etc. Porém, na prática, o processo de decisão é também influenciado por questões emocionais e sujeito a vieses. A verdade é que nossa racionalidade é limitada.
Durante décadas, o psicólogo Daniel Kahneman se dedicou a entender esse processo. A partir de uma série de diferentes experimentos, Kahneman e outros pesquisadores construíram uma nova área de pesquisa conhecida como Economia Comportamental que revolucionou o nosso entendimento sobre as decisões humanas sob condições de incerteza. Por essas contribuições, Kahneman foi agraciado com Prêmio Nobel de Economia em 2002.
A lista de vieses cognitivos é grande. Vamos falar sobre três que consideramos particularmente importantes (e frequentes) na decisão de investimento e como organizamos nosso processo de investimento para tentar evitá-los.
O primeiro deles é o Viés de Confirmação que diz que as pessoas têm a tendência de ver e interpretar informações de uma maneira que confirme crenças previamente estabelecidas. As pessoas ignoram sistematicamente evidências que negam suas crenças, deixando de ver o mundo como ele realmente é. Para tentar evitar esse viés na Kinea, mantemos independência do time de Análise em relação ao time de Gestão. Além disso, antes de iniciar a investigação de qualquer tema de investimento, o papel do chefe de pesquisa é discutir a priori a metodologia e processo que será empregado. As atribuições da pesquisa são divididas entre vários analistas reforçando a pluralidade de opiniões e diminuindo possíveis vieses individuais.
Um segundo comportamento que dificulta o trabalho de análise é a chamada Ancoragem: as pessoas são fortemente influenciadas por informações iniciais que funcionam como pontos de referência (“ancoras”). Por exemplo, o comportamento recente dos preços tende a influenciar, desproporcionalmente, a avaliação de cenários futuros de um certo mercado. Para minimizar o risco de Ancoragem, buscamos fazer testes de robustez nas nossas conclusões, ampliando horizontes e comparando com outros países e mercados. A tese de investimento ainda valeria utilizando dados muito mais longos? E comparando com experiências de outros países? Essa amplitude de experiências históricas minimiza o risco de ancoragem em nossas decisões.
Por fim, vamos falar do Efeito Adesão (Bandwagon): as pessoas têm uma forte tendência para falar, agir ou acreditar nas coisas simplesmente porque muitas outras pessoas o fazem (independentemente da lógica dessas atitudes). Consensos dificilmente são questionados e erros em grupo tendem a ser mais aceitos do que erros individuais. Na Kinea, em pesquisa proprietária, os analistas precisam apresentar cenários alternativos de investimento, mesmo que inicialmente eles pareçam de baixa probabilidade. Isso ajuda a evitar tanto o Efeito Adesão quanto o de Ancoragem. Além disso, a cultura da empresa privilegia os processos e os resultados de longo prazo.
No mercado financeiro, a consequência direta desses vieses de avaliação é a criação de oportunidades de investimento. Frequentemente, os preços se descolam muito do que seria o valor racional de um ativo. Saber das armadilhas cognitivas e adotar um processo para minimizá-las é um passo importante para o investidor explorar e identificar essas oportunidades.
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¹O índice de ancoragem é a razão entre a diferença da avaliação média dos dois grupos de especialistas e a diferença entre os dois preços de venda apresentados.
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