Admirável Mundo Novo: Ethereum, NFTs e o futuro da Internet
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Como o Ethereum pode revolucionar os direitos de propriedade digital e mudar toda internet, afetando nossa relação com empresas de Big Tech e forçando gigantes como a Google e o Facebook a adaptarem seus negócios.
A figura abaixo, o Cryptopunk #3100, foi vendida por aproximadamente 7.5 milhões de dólares. O preço, digno de um Monet, é impressionante. Para entender por que alguém pagaria tão caro por uma figura sem nenhum mérito artístico evidente, o primeiro passo é saber exatamente o que foi comprado.
Diferente de um Monet, não existe uma versão física do Cryptopunk #3100. E, como qualquer imagem na internet, basta clicar com o botão direito do mouse para conseguir uma cópia dele. O que foi vendido foi um registro em uma database.
E por que esse registro é tão caro? De certa forma, pelos mesmos motivos que várias pessoas pagariam caro por um Monet: exclusividade, representação de um movimento artístico e estética. Só existem 10,000 Cryptopunks e muitos de seus donos os usam como imagens de perfil no Twitter, como sinal de status. Alguns detentores famosos de punks são o DJ Steve Aoki, a tenista Serena Williams e a VISA. Entrar nesse clube é caro!
Pode parecer loucura pagar tanto por algo que é só uma linha em uma database. Mas o cryptopunk existe em uma database especial: uma blockchain (a mesma tecnologia por trás das criptomoedas). Registros de propriedade em blockchains são mais seguros do que registros em databases tradicionais. Eles são chamados de NFTs (non fungible token).
Nesse texto vamos mostrar para que servem NFTs hoje e porque achamos que esta tecnologia pode mudar a forma como interagimos com a internet, ameaçando o modelo de negócios de gigantes da internet como a Google e a Facebook.
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NFTs: Descentralizando Propriedade
Uma NFT é uma entrada na database descentralizada (blockchain) com restrições especiais: diferente de criptomoedas, não é possível dividir uma NFT em frações e cada NFT é única¹.
Dessa forma, NFTs podem representar qualquer propriedade, real ou virtual; só é necessário que as partes interessadas concordem que o endereço detentor da NFT é de fato dono da propriedade. Como NFTs podem ser negociadas online por qualquer pessoa, essa codificação dá à propriedade um novo nível de liquidez e acesso a mercados.
O maior uso de NFTs hoje é para registros de arte. Como vimos na introdução, os Cryptopunks são uma coleção de NFTs de bastante prestígio. Várias obras são negociadas em sites de leilão como o OpenSea. NFTs de artistas mais renomados são vendidas em casas de leilão tradicionais: a NFT acima, do artista digital Beeple, fez furor ao ser leiloada na Christies por 69 milhões de dólares.
NFTs facilitam a transferência de propriedades intangíveis. Se um artista quer vender os direitos de streaming de suas músicas para o Spotify ele precisa se associar a uma distribuidora, que pode cobrar caro (além da porcentagem que o Spotify detém dos lucros de streaming). Note os custos intermediários: o artista tem que pagar para vender os direitos sobre seu trabalho! Serviços de streaming distribuídos corrigem essa lógica: no Audios, um serviço de streaming descentralizado, uma NFT representa os direitos do artista e ele pode alugar ela diretamente.
Games também podem usar NFTs para representar itens, facilitando um mercado secundário. O Sorare é um jogo parecido com o Cartola FC, mas nele para escalar um jogador para o seu time é preciso ter uma NFT de uma carta dele. Cartas de jogadores que se destacam se valorizam e jogadores muito bons tem cartas mais raras. A empresa do jogo ganha uma comissão por todas as vendas de cartas no mercado secundário. Eles estão crescendo a passos largos; no mês passado, em uma rodada de investimento liderada pelo Softbank, o jogo recebeu 680 milhões de dólares.
Com NFTs representando propriedade e com comunicações confiáveis sem intermediários, estamos entrando em uma nova era da internet, a Web 3.0. Para explicar a visão da Web 3.0, precisamos passar pela Web 1.0 e 2.0 e entender o que há de novo.
O Potencial da Web 3.0
Inicialmente a internet era um conjunto de páginas estáticas, que os usuários tinham que acessar manualmente. A interação do usuário com um website começava e acabava com o acesso ao site. O avanço da tecnologia tornou possíveis sites mais integrados. Na web 2.0, grandes empresas de tech como a Google e o Facebook expandiram seus sites para plataformas interconectadas de serviços, onde usuários geram e recebem conteúdo dinamicamente.
A grande falha da Web 2.0 é que essas gigantes de tech se tornaram imensamente poderosas e para participar da internet os usuários têm que confiar cegamente nelas. É preciso confiar que o Google te mostrará os resultados certos nas suas pesquisas e que o Facebook não venderá os dados que você cede à plataforma para terceiros mal-intencionados.
Na Web 2.0 você não é dono do seu perfil no Instagram ou no Twitter. Você não é dono dos comentários que as pessoas fazem neles, ou da lista de seus seguidores, ou da quantidade de likes que você tem. Essas informações só existem nas databases das empresas de big tech. Estas empresas podem editar ou mesmo destruir suas informações facilmente. Para algumas pessoas perder sua lista de amigos do Facebook pode ser só bastante inconveniente, mas para uma empresa que vive de divulgar seu conteúdo no YouTube pode ser o fim dos negócios. E quanto mais o mundo se torna digital, maior o poder destas informações.
O potencial da Web 3.0 é reverter o processo de acumulação de informação e poder das big techs. Se as informações de suas interações com a internet fossem representadas por NFTs em databases descentralizadas o seu “eu digital” não estaria mais na mão destas grandes empresas. As suas informações seriam criptografadas e só seria possível lê-las com a sua autorização, mas a prova da existência delas estaria lá para todos verem.
Redes sociais ainda existirão na Web 3.0, mas seu papel mudará. O valor das redes sociais vem de suas databases gigantes com muitos dados de usuários que elas coletam implicitamente em troca de seus serviços.
Na web 3.0, o usuário escolherá quais informações ele quer dar para a rede social explicitamente e ela ganhará essas informações para ampliar sua database interna (que ainda será a fonte de seu valor). Mas se o serviço começar a se tornar abusivo será fácil migrar sua conta para um competidor com todas as informações de seguidores, rede e influência que são cada vez mais valiosas, e bloquear o acesso da rede antiga.
O que descrevemos aqui pode parecer muito distante, mas a infraestrutura da Web 3.0 já está sendo montada. Como no começo da Web 2.0 a maioria das pessoas ainda não compreende a escala que os serviços sobre os quais isso será feito pode ganhar: no começo parecia que o Google seria só um sistema de busca e a Microsoft uma desenvolvedora de Software. Entre as redes com potencial para se tornarem a infraestrutura da Web 3.0, a mais bem posicionada é o Ethereum.
Into the Ether
A maioria das pessoas acham que criptomoeda é sinônimo de Bitcoin. Na verdade, existem vários tipos de redes de criptomoedas. O Bitcoin é a mais simples, permitindo somente transferência de valores. O Ethereum, por outro lado, é uma rede de smart contracts: ele permite que se execute qualquer programa de computador em sua rede descentralizada. Diferente da rede do Bitcoin, isso faz com que seja possível criar NFTs e protocolos da Web 3.0 no Ethereum.
Para executar programas no Ethereum é necessário pagar Ether. O Ether é a moeda do Ethereum, assim como o dólar é a moeda dos Estados Unidos. Para morar nos Estados Unidos você precisa pagar impostos em dólar; para morar na Web 3.0 você precisa pagar transações em Ether (ou na moeda nativa de outro protocolo similar).
O Ether também tem outras vantagens com relação ao Bitcoin como moeda. Muitos consideram o Bitcoin como uma proteção contra inflação, devido à quantidade fixa de oferta de Bitcoin. No Ether, a maior parte do preço das transações é destruída; se a demanda por transações for alta, a quantidade de Ether diminui ao longo do tempo.
O Bitcoin é um protocolo monolítico; ele é atualizado muito esporadicamente. O Ethereum, por outro lado, tem um sistema que força atualizações aproximadamente a cada quadrimestre. Uma das atualizações mais esperadas, agendada para o começo do ano que vem, diminuirá o uso de energia da rede em mais de 99%. Isso deve tornar o Ether uma escolha melhor que o Bitcoin para investidores com preocupações de ESG.
O maior risco de se investir em Ether é que devido à demanda alta, o custo de transações na rede ainda é muito alto para o público geral. Há soluções de escalabilidade possíveis, mas elas ainda não foram amplamente adotadas na rede do Ethereum. Novas blockchains como o Solana e o Polkadot já tem essas soluções embutidas em seus protocolos, e se a comunidade de desenvolvedores do Ethereum demorar muito para lidar com este problema é possível que uma outra rede o suplante.
A despeito disso, o Ethereum está posicionado para ser um dos vencedores da Web 3.0, e o Ether é uma boa forma de se expressar este tema em um portfólio. Dado o potencial de desestabilizar os negócios das empresas de big tech, acreditamos que todo investidor tenha que ficar atento a estes desenvolvimentos, mesmo se não investir diretamente em blockchain. Vemos um admirável mundo novo no horizonte, e é preciso entendê-lo, ou correr o risco de ser pego de surpresa.
¹Embora sejam minoria, existem algumas NFTs no limiar de moeda e propriedade, que são intercambiáveis. Isso depende dos parâmetros especificados em sua criação.
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