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Reflexões

Cuidado: sinais de desaceleração à frente

18 ABR 2022

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A rara desconexão entre os preços de ações do setor financeiro americano e os rendimentos dos títulos do tesouro de dez anos nos alertam para riscos negativos se materializando sobre o crescimento global. Em um ano que começou na expectativa de atividade mais normal e sincronizada após a fase aguda da Covid-19, vários sinais se acumulam na direção de desaceleração.

Cuidado: sinais de desaceleração à frente

Usualmente, ciclos de aperto monetário vêm acompanhados por abertura das curvas de juros e, ao menos no início, boa performance de ações dos bancos, beneficiários diretos das maiores taxas de empréstimos. A desconexão observada no gráfico é sinal de que o mercado está antecipando que fenômenos contrários – como uma desaceleração econômica com queda de demanda por crédito e aumento da inadimplência – podem ser mais relevantes.

Cuidado: sinais de desaceleração à frente

Sintomas de uma possível desaceleração estão presentes também no aperto recente das condições financeiras de forma mais ampla. A mudança de discurso do Fed no combate à inflação, intensificada pelo choque geopolítico na Ucrânia e pelo iminente início do aperto quantitativo, virou a chave de liquidez abundante dos últimos dois anos. Quando o ISM (principal survey da indústria americana) aponta para 52, é sinal de que o PIB voltará a crescer próximo – senão abaixo – do potencial.

Cuidado: sinais de desaceleração à frente

Outro vento desfavorável para a indústria global vem de um velho conhecido, que julgávamos praticamente superado: o pior surto da Covid-19 na China desde Wuhan, que chegou a colocar Shanghai em lockdown, e vem tornando mais distante a meta de crescimento de 5.5% do governo, além de gerar novas rupturas na indústria e no comércio globais.

Cuidado: sinais de desaceleração à frente

Paradoxalmente, dessa vez o lado da oferta – tão responsabilizado pelos gargalos produtivos e inflacionários recentes – pode contribuir para uma tempestade perfeita na indústria. Um dos setores usualmente mais sensíveis ao aperto monetário é o consumo de bens duráveis, que segue nos EUA 12% acima da tendência de longo-prazo. Mas o ajuste de estoques já parece adiantado o suficiente no varejo, o que deve contribuir para menor demanda por encomendas da indústria.

Vai ser bastante difícil separar cada um desses canais se (e quando) os próximos dados começarem a indicar tal desaceleração. Mas sua soma e interação não devem ser triviais, e seus efeitos sobre crescimento podem estar sendo subestimados pelo mercado.

Estamos mais cautelosos em nossas posições nos EUA, preferindo reduzir as apostas em juros e aumentar na moeda. Nesses períodos de desaceleração econômica, posições compradas no dólar contra outros países desenvolvidos tendem a representar uma boa proteção para o Fundo.

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