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Insights

A Cura do Câncer

11 JAN 2023

Imagem A Cura do Câncer

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“A nova esperança da biotecnologia”

Essa frase atribuída ao ator Michael Douglas representa o impacto do câncer na vida da humanidade. Felizmente, a biotecnologia vem avançando nessa luta: Recentemente, o resultado preliminar de um novo tratamento de vacina contra o câncer, que vamos abordar nesse texto, mostrou redução de 44% de chance de óbitos em relação ao tratamento tradicional para câncer de pele. Resultados como esses demonstram o quanto a ciência está no caminho certo para eventualmente encontrar a cura do câncer.

Um problema milenar

Nesse Kinea Insights vamos cobrir o histórico do tratamento dessa doença, bem como os mais recentes desenvolvimentos e esperanças em seu tratamento.

Em 1862, Edwin Smith – um personagem incomum: parte estudioso e parte vendedor ambulante – comprou (ou roubou, dizem alguns) um papiro de cinco metros de um vendedor de antiguidades em Luxor, no Egito. O papiro estava em péssimas condições, com páginas amarelas cheias de letras egípcias cursivas. Acredita-se que tenha sido escrito no século XVII aC.

O papiro continha os ensinamentos coletados de Imhotep, um grande médico egípcio. A característica surpreendente do papiro é a ausência de magia e religião, que sempre estava presente em escritos dessa época. Os quarenta e oito casos no papiro – fraturas da mão, abscessos abertos na pele ou ossos do crânio quebrados – são tratados como condições médicas em vez de fenômenos ocultos, cada um com seu próprio glossário anatômico, diagnóstico, resumo e prognóstico.

Cada caso no papiro foi seguido por uma discussão concisa dos tratamentos. Mas com o caso quarenta e cinco, “uma massa protuberante no peito que se espalha” Imhotep ficou atipicamente calado: Na seção intitulada “Terapia”, ele ofereceu apenas uma única frase: “Não há nenhuma”.

Um dos maiores desafios da saúde global

O câncer é um dos principais problemas de saúde do mundo. É hoje a segunda principal causa de óbitos, responsável por mais de 10 milhões de mortes no mundo em 2019. Isso significa que mais de uma em cada seis mortes são causadas por câncer.

O envelhecimento é um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento do câncer. A incidência da doença aumenta drasticamente com a idade, provavelmente devido a um acúmulo de riscos por maior tempo exposto a maus hábitos, como exposição a raios UV, tabaco, radiação e alimentos processados. Esse acúmulo ainda é combinado com a perda da capacidade de substituição de tecidos lesados à medida em que a pessoa envelhece

Como se sabe, a expectativa de vida tem aumentado nas últimas décadas. Só nos últimos 70 anos, a expectativa de vida nos EUA aumentou em 10 anos, alcançando a média de 79,9 anos em 2022. Esta longevidade é devido a melhores cuidados de saúde e higiene, estilos de vida mais saudáveis, dieta e melhores cuidados médicos. Temos acesso a antibióticos e vacinas, água limpa, alimentos abundantes e mais nutritivos, e sabemos que o exercício e as escolhas inteligentes de estilo de vida melhoram nossa quantidade e qualidade de vida.

Se a população está envelhecendo e a prevalência de câncer aumenta conforme a idade, o aumento de casos é uma consequência inevitável. A OMS estima que os casos de câncer em 2040 aumentarão em 50% em relação a 2020, atingindo a marca de 29 milhões no ano.

Qual é a saída após um diagnóstico de câncer?

Felizmente tivemos avanços significativos nas últimas décadas e possuímos um arsenal para enfrentar essa doença, como quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Mas sabemos que ainda é pouco. A boa notícia é que a ciência continua avançando, o que nos dá esperança de um futuro melhor. Devemos ter novas armas nos próximos anos, sendo uma delas a vacina de mRNA contra o câncer, que vamos detalhar nesse Kinea Insights.

Quimioterapia e radioterapia: os tratamentos tradicionais

A radioterapia foi o primeiro tratamento contra o câncer a ser descoberto, em cerca de 1900. A ideia surgiu quando Henry Becquerel estava estudando radiografias e percebeu que os Raios-x incididos em excesso para a projeção de imagens de possíveis fraturas podiam destruir as células. Com isso, iniciou-se o estudo de como utilizar esses raios para destruir células de tumores, enquanto eles ainda não se espalhavam.

Posteriormente, a quimioterapia surgiu de uma arma química terrível utilizada na segunda guerra mundial: o gás mostarda. Diferentemente dos outros gases, este nem precisava ser inalado para causar danos. Atuava queimando a pele, causando bolhas enormes que causavam infecções fatais. Uma das pesquisas acerca do gás mostarda confirmou um efeito específico: a redução de glóbulos brancos do sangue, que tornava as infecções mais severas. Como nas leucemias ocorre uma multiplicação desenfreada dos glóbulos brancos, veio a ideia de empregar um derivado do gás contra o câncer: estava inaugurada a era da quimioterapia.

Acontece que essa terapia não destrói somente as células cancerígenas, ela tem o efeito colateral de atacar as células saudáveis que tenham alta replicação também, como os cabelos, por exemplo. Além disso, o principal problema da quimioterapia como único tratamento são as relativas baixas chances de sobrevivência médias nos tratamentos dos cânceres.

A esperança da biotecnologia

Assim, era preciso uma terapia mais eficiente, e a biotecnologia possibilitou outros tipos de armas para agirem conjuntamente, como a imunoterapia.

O termo imunoterapia tem um escopo bastante amplo, mas basicamente refere-se à utilização do nosso próprio sistema imunológico contra o tumor. As duas terapias mais bem-sucedidas são o CAR-T e os inibidores do ponto de controle imunológico (immune checkpoint inhibitors).

Como essas armas contra o câncer funcionam? O nosso corpo está constantemente se defendendo contra células mutantes que se multiplicam descontroladamente. Na esmagadora maioria das vezes, nosso sistema imunológico é suficiente para solucionar esses problemas. Mas, em alguns casos isolados, o tumor consegue enganar o nosso sistema imunológico, multiplicando-se sem freios e tornando-se um câncer.

As imunoterapias CAR-T e immune checkpoint inhibitors atuam de modo a manter o nosso sistema imunológico atuante. Elas agem de diferentes formas: a terapia CAR-T melhora a célula T (responsável por destruir células infectadas ou fora do padrão) para continuar ativa e detectar o câncer, enquanto os immune checkpoint inhibitors bloqueiam as ações das células cancerígenas de tentar inativar as células T.

Essas terapias modernas, embora substancialmente melhores que os tratamentos tradicionais, ainda estão longe de representar uma cura para essa doença. Por exemplo, há alguns tipos de tumores, chamados “tumores frios”, que bloqueiam a aproximação das células T e então a imunoterapia não funciona.

Outros avanços estão ocorrendo na forma de transformar os tumores frios em “tumores quentes”, ou seja, tirar a barreira que bloqueia o ataque do sistema imunológico ao tumor. Mas em geral, a imunoterapia, com o uso combinado do CAR-T e dos immune checkpoint inhibitors, melhorou muito a eficácia clínica da terapia de tumores malignos, com substancial melhora da expectativa de vida dos pacientes.

Os maiores medicamentos da classe de immune checkpoint inhibitors são o Keytruda, da Merck, e o medicamento Revlimid, que estão hoje entre os medicamentos mais vendidos do mundo.

Além da quimioterapia, imunoterapia e radioterapia, a biotecnologia pode trazer em breve outro importante método de tratamento: a vacina de mRNA. A tecnologia que conseguiu curar o mundo da COVID-19 pode ser mais uma arma contra o câncer.

Da vacina de Covid para a vacina do Câncer. Ou o contrário?

Em 2020, a OMS declarou como uma pandemia o vírus da COVID-19. Era preciso desenvolver uma vacina em tempo recorde. A BioNTech, em parceria com a Pfizer, conseguiu esse feito: desenvolveu uma vacina de mRNA em apenas 10 meses, um tempo recorde. Afinal, o tempo médio de desenvolvimento de vacinas era mais de 4 anos.

Até então, as vacinas eram compostas de vírus mortos ou atenuados, que criavam memória no corpo para que, quando atingido pelo vírus verdadeiro, o sistema imune conseguisse combatê-lo. Na vacina mRNA, não se usam vírus atenuados e sim o RNA mensageiro, que induz as células do corpo a produzir alguma estrutura do vírus e criar imunidade contra ele.

De onde veio essa tecnologia? A BioNTech e a Moderna tinham como missão o desenvolvimento de uma vacina de mRNA contra o câncer, e já tinham chegado ao ponto de produção de um mRNA e sua entrega à célula. Quando elas se depararam com a pandemia da Covid, sabiam que era possível ajudar: já tinham a tecnologia do mRNA e era preciso apenas alterá-lo para produzir especificamente a proteína do COVID-19, no caso, a proteína referente à coroa do vírus (spike protein).

O sucesso da vacina contra a COVID-19 animou a comunidade científica a continuar buscando vacinas mRNA para a cura de outras doenças, e, sobretudo, o câncer. Testes clínicos de vacina mRNA contra o câncer já estão em andamento, liderados pelas mesmas empresas pioneiras nas vacinas de Covid: Moderna e BioNTech. Na Kinea, mantemos investimentos em ambas as empresas.

Mesmo com a dificuldade de se tratar o câncer, por seu caráter específico em cada pessoa (diferentemente do COVID-19, que tem as mesmas cepas de vírus), a Moderna e BioNTech estão desenvolvendo uma vacina personalizada. Primeiramente, coleta-se uma amostra de DNA normal e do DNA do câncer da mesma pessoa. Depois, um software de inteligência artificial mapeia a diferença entre esses DNAs e cria uma vacina específica para o corpo reconhecer e atacar as células cancerígenas.

Todo esse processo dura em média 2 semanas e é conduzido em conjunto com immune checkpoint inhibitors citado na seção anterior.

Por ser necessário o DNA do câncer do paciente, essa vacina seria aplicada apenas em pessoas diagnosticadas, diferente do caso da COVID-19, por exemplo, que houve vacinação em massa.

Os resultados dos testes até o momento foram positivos. Em relação à vacina da Moderna, os pacientes desenvolveram pelo menos 3 vezes mais antígenos contra o câncer após o uso da vacina na fase inicial do teste.

Na próxima fase, o resultado preliminar foi a redução de 44% da chance de óbitos após o tratamento contra melanoma em relação ao tratamento somente com o Keytruda. Ainda falta um longo caminho a percorrer até a comercialização, como a aprovação e condução da última fase, que amplia o estudo para provar sua segurança e eficácia. Além disso, é preciso desenvolver vacinas para outros tipos de câncer, além do melanoma, o que deve levar alguns anos, pois apesar de já estarem sendo testadas, estão ainda em fases anteriores. Mesmo assim, foi um resultado fascinante, que causa expectativas de atingirmos um grande marco da medicina. Várias doenças que conhecemos hoje podem estar com seus dias contados.

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Uma doença tão complexa requer, como apresentado acima, soluções igualmente desafiadoras para sua cura.

Na Kinea, não só estudamos esses desenvolvimentos encorajadores, como também cada vez mais investimos nesse universo de biotecnologia, que vemos como uma área de forte crescimento para as próximas décadas. Afinal, de que serve todo o desenvolvimento econômico se não pudermos viver vidas plenas e com saúde dentro de uma maior longevidade?

Temos também investimentos em outras áreas promissoras dentro da biotecnologia, como o caso da edição genética, cujas aplicações podem revolucionar o tratamento de doenças genéticas.

Traremos mais informações e novos conteúdos sobre essa promissora área de desenvolvimento em nossas futuras publicações.

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