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A magia dos novos remédios de emagrecimento
Os alquimistas estão chegando!
Na prática medieval, os alquimistas buscavam transformar o chumbo em ouro, através da busca da pedra filosofal. A pedra também traria o elixir da vida, o qual permitiria a imortalidade, realizando assim os desejos humanos de eterna juventude e enorme riqueza.
Na sociedade moderna, com abundante oferta de alimentos e facilidades tecnológicas que contribuem para o sedentarismo, a nova pedra filosofal passou a ser representada pelo peso ideal. O novo elixir da vida, seja pela saúde ou pela estética, transmutou-se em uma poção mágica já conhecida por boa parte da sociedade: “Ozempic”!
A alquimia, entretanto, pressupunha um doloroso processo de transmutação, onde não só a matéria, mas também o alquimista, passavam por uma penosa transformação, lembrando o também penoso processo de emagrecer via restrição calórica.
Entretanto, os novos medicamentos, como o Ozempic, Wegovy e Mounjaro, parecem desafiar essa lógica. Com resultados impressionantes, emagrecer passou a ser algo “fácil”.
Como tudo na vida, há problemas e questões em aberto que vamos percorrer nesse texto, mas estamos vivendo uma revolução no tratamento da obesidade.
Qual o tamanho desse mercado?
Obesidade é algo relativamente recente na história. O alimento antes era escasso e a atividade física, principalmente no campo, uma necessidade diária. O excesso de peso era um privilégio associado a um status social elevado.
A realidade é que a obesidade se tornou um problema das sociedades modernas. Atualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 760 milhões de adultos obesos no mundo. E o problema é crescente.
A Federação Mundial de Obesidade estima que, na trajetória atual, em 2030, teremos cerca de 1 bilhão de adultos obesos no mundo. Para se ter uma ideia, países como os Estados Unidos têm atualmente mais de 40% da população sendo considerada obesa. O Brasil não fica tão atrás, com cerca de 30% da população na mesma condição.
E por que a obesidade é um problema? Normalmente, ela está associada a problemas de saúde como diabetes tipo 2, pressão alta e colesterol alto, ocasionando indiretamente 2.8 milhões de mortes por ano. Os planos de saúde gastam 85% a mais, em média, com pacientes com alto grau de obesidade em relação a pacientes com o peso adequado.
E não é só saúde: existe uma pressão social, seja pelas redes sociais ou indústria da moda, na busca pelo corpo socialmente aceito. Uma pesquisa recente, de um comitê do parlamento do Reino Unido, mostrou que aproximadamente apenas 20% da população está satisfeita com o próprio corpo.
Esses medicamentos já se tornaram tão significativos para a principal fabricante, a empresa Novo-Nordisk da Dinamarca, que o país atualmente informa seu PIB com e sem os efeitos de sua indústria farmacêutica. Hoje as vendas desses medicamentos pela Novo e a Eli Lilly já chegam a um total de mais de $21 bilhões de dólares.
Podemos então pensar o potencial de receita desses novos medicamentos indo além do próprio mercado de obesidade, englobando também a população insatisfeita com o corpo.
Quando levamos em consideração esses dois fatores, chegamos a uma população alvo de cerca de 3 bilhões de pessoas em 2030.
Quantos outros mercados vemos tanto potencial? É claro, não é esperado que toda essa população venha a consumir esses novos medicamentos, e nem todos vão conseguir pagar o alto custo associado a eles.
As nossas estimativas levam em conta esse alto preço. Em resumo, se a população alvo dos Estados Unidos buscar tratamento de oito meses em média, considerando aproximadamente 50% de queda no preço atual e um tratamento limitado a 4% da renda anual de cada pessoa, chegamos a um mercado potencial de mais de $100 bilhões de dólares em 2030!
Desenvolvimento das drogas de emagrecimento
Curiosamente, esses novos medicamentos não foram desenvolvidos para tal finalidade, e sim para o tratamento da diabetes tipo 2. Com o tempo, observou-se que os pacientes passaram a emagrecer mais rapidamente que o grupo de controle.
Foi a partir do Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, medicamentos da classe GLP-1, que tivemos uma virada significativa no tratamento da obesidade.
Esses medicamentos são basicamente formas sintéticas do hormônio GLP-1 e atuam de três formas no corpo: estabilizam o nível de glicose no sangue, liberam um hormônio que dá sensação de saciedade e deixam a digestão mais lenta. Dessa forma, a fome é reduzida.
A estabilização de glicose provocada pelo GLP-1 é feita pelo aumento de insulina e redução do hormônio glucagon (que tem um efeito contrário ao da insulina). Então, é como se aumentasse a insulina duplamente, o hormônio que é responsável por reduzir as taxas de glicose no sangue. Essa estabilização da glicose fez o medicamento Ozempic ter sucesso no tratamento da diabetes tipo 2, que era o seu alvo principal.
Entretanto, com o tempo, os pacientes notaram uma redução de peso significativa, e a Novo Nordisk, empresa desenvolvedora desse medicamento, criou o Wegovy, que tem o mesmo princípio ativo, mas em uma dose de 2.4mg, ao passo que o Ozempic tem 1mg, para potencializar os efeitos da perda de peso e ser destinado aos pacientes com obesidade.
Até o momento, os únicos medicamentos GLP-1 de alta eficácia aprovados são o Ozempic, Wegovy e Mounjaro, que são medicamentos injetáveis semanalmente. O Ozempic é aprovado para diabetes tipo 2, enquanto os outros dois são especificamente para obesidade.
As opções via oral do medicamento GLP-1 são menos eficazes, pois têm menor concentração e absorção no corpo. Mas a Novo Nordisk, Eli Lilly e Pfizer estão na tentativa de desenvolver opções orais eficazes, o que poderia modificar as características do mercado.
As bulas desses medicamentos listam efeitos colaterais geralmente brandos, como náusea. As reações mais graves documentadas e comprovadas, até o momento, são retinopatia, uma alteração da visão, pancreatite aguda (reação incomum) e reações anafiláticas (reação rara). Nesses casos específicos há a necessidade de parar o tratamento.
De forma geral, os medicamentos se mostraram bastante seguros nos testes clínicos, sempre com a observação, como está na própria bula do medicamento, que, por se tratar de um medicamento novo, eventualmente possam surgir reações até o momento não documentadas.
Duopólio: Eli Lilly e Novo Nordisk
Como destacamos, apenas a Novo Nordisk e Eli Lilly fornecem medicamentos GLP-1 de alta eficácia (perda de mais de 15% da massa corporal com 1.5 ano de tratamento). Elas constituem um duopólio nesse mercado de obesidade, que ainda deve durar por pelo menos 3 anos, visto que os medicamentos sendo desenvolvidos têm expectativa de serem aprovados apenas depois de 2026.
Atualmente, o crescimento nas prescrições desses medicamentos mostra o quanto a demanda é altíssima, mesmo que eles custem mais de 1.000 dólares por mês nos Estados Unidos.
O gargalo atualmente é a capacidade de suprir a demanda, tanto que a desaceleração das prescrições do Wegovy no gráfico é explicada por esse fator: faltou o medicamento nas farmácias dos Estados Unidos e os médicos reduziram as prescrições, já que os pacientes não conseguiam encontrá-lo.
Esse medicamento é produzido em duas etapas principais: a fabricação das moléculas do princípio ativo e a etapa de finalizar e preencher as seringas com o medicamento. A etapa final (finalizar e preencher as seringas) é terceirizada e, atualmente, a capacidade de produção é muito inferior a demanda.
Veja que se seguíssemos a linha de tendência das prescrições do Wegovy, desconsiderando a falta de capacidade, a demanda estaria hoje em cerca de trezentas mil prescrições semanais.
Tanto a Novo Nordisk, quanto a Eli Lilly estão investindo em novas capacidades de produção para atender a demanda. Normalmente, uma fábrica demora cerca de dois anos para ser concluída e aprovada.
Estamos posicionados na Novo Nordisk, pois estimamos uma demanda tão alta que será capaz de sustentar a receita da Novo e da Eli Lilly quando entrar nova capacidade de suprimento nos próximos meses, diferente do que parece estimar o mercado.
As estimativas de aumento de capacidade da Novo de finalizar e preencher seringas, aliada aos testes de utilização dos seus medicamentos como prevenção de doenças cardiovasculares, juntamente com a potencial cobertura dos planos de saúde, são pontos que sustentam a nossa tese de compra.
Também destacamos que na agenda de futuros medicamentos aprovados, o medicamento oral de emagrecimento da Novo é o mais avançado em termos de tempo de aprovação. Na última fase dos trials, ele provocou em média uma perda de peso de 15% em 1.5 ano de tratamento, resultado em linha com os medicamentos atuais, mas com uma grande vantagem: o fato de ser oral, visto que o medicamento injetável é visto por muitas pessoas como agressivo.
Como um último ponto, ao comparar a Novo Nordisk com a Eli Lilly, vemos uma relação de risco retorno melhor para Novo, pelo fato da Lilly ser uma empresa exposta a vários outros mercados de doenças, enquanto a Novo é um player praticamente apenas de diabetes e obesidade.
Oportunidade 1: aceitação ampla pelos planos de saúde
O preço desses novos medicamentos, como mencionamos anteriormente, é alto. A oportunidade se daria na cobertura pelos planos de saúde. Por um lado, o plano de saúde terá um gasto recorrente, mas potencialmente terá menos gastos futuros com internações, cirurgias e medicamentos se seus segurados tiverem maior controle do peso. Até que o valor do medicamento faria sentido para o plano de saúde aceitar a cobertura?
O custo atual dos pacientes obesos no sistema americano, de acordo com o estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Americano, é de 173 bilhões de dólares por ano, cerca de 4% do custo total de saúde, incluindo medicamentos e internações.
O teste clínico SELECT, conduzido pela Novo Nordisk, testou o impacto do Wegovy nas complicações cardiovasculares, para mostrar que a redução de peso é uma questão de saúde e, consequentemente, reforçar a necessidade de cobertura dos planos.
O resultado desse teste sairá em novembro, mas a última fase saiu em agosto, e indicou uma redução de 20% do número de complicações cardiovasculares nos pacientes testados em um tratamento de 68 semanas, o que seria uma média anual de redução de 15%.
Se considerarmos que o sistema de saúde americano gasta cerca de 170 bilhões de dólares por ano com complicações provocadas pela obesidade e que o Wegovy reduz em 15% a chance de ter essas complicações, a economia do sistema de saúde seria em torno de 26 bilhões por ano.
Considerando que no Medicare, plano de saúde governamental para pessoas idosas dos Estados Unidos, existem 10 milhões de pacientes declarados obesos, o remédio deveria custar 2.600 dólares por ano para compensar totalmente para o plano a cobertura desses medicamentos.
Atualmente, ele já custa em torno desse preço na Europa, mas nos Estados Unidos é em torno de cinco vezes mais caro. Isso ocorre pela oferta e demanda e porque o governo americano não é autorizado a negociar diretamente com as empresas farmacêuticas o preço do medicamento. Na Europa, e em outros países, essa negociação é permitida.
Recentemente, o presidente Joe Biden pronunciou-se acerca disso e listou medicamentos os quais poderão ter seu preço discutido com o governo para reduzirem o preço. O mercado tem expectativa que no futuro os medicamentos GLP-1 para obesidade também entrem nessa lista.
Oportunidade 2: aumento de tempo de tratamento
Além disso, um outro ponto importante é o tempo total de tratamento por pessoa. No início de 2023, as estimativas eram de 6 meses de tratamento e elas evoluíram para um patamar de 8 meses. Existem analistas que estimam 2 anos de tratamento.
Existe a possibilidade de que o GLP-1 seja encarado no futuro como uma “dieta facilitada”, ou seja, as pessoas iriam fazer o tratamento, parar e recomeçar após alguns meses quando se sentirem novamente insatisfeitas com o corpo, como normalmente é feito com as dietas. Essa ideia vem de uma pesquisa feita pela própria Novo, que mostrou que os pacientes que param o tratamento ganham peso novamente:
Pode ser que a nossa estimativa do tamanho do mercado ainda esteja subestimada, caso o tempo médio de tratamento continue aumentando no futuro.
Riscos: concorrência de novas drogas do pipeline
O principal risco para nossa tese investida na Novo é o potencial de novos entrantes a partir de 2025. Incrivelmente, alguns medicamentos atuais em teste clínicos têm tido desempenho aparentemente superior aos ótimos números do Wegovy, aproximando-se da perda de peso esperada com cirurgia bariátrica!
Veja que o medicamento da Amgen, por exemplo, ocasionou uma perda de peso de quase 15% em apenas 13 semanas.
Continuaremos a monitorar os desenvolvimentos nesse campo. Além disso, mantemos posições compradas no setor de biotecnologia, que inclui empresas como a Amgen, pois consideramos que, no momento, o potencial de futuro crescimento desse setor não está representado de forma correta nos preços de mercado.
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O advento de medicamentos que permitem ao indivíduo controle do sobrepeso deve ser visto como um dos maiores avanços da medicina em tempos recentes. Inúmeras doenças, tanto de caráter físico quanto psicológico, são hoje geradas pela incapacidade do controle do peso dentro da sociedade moderna.
Recuperar controle sobre o peso é, para muitos indivíduos, recuperar controle sobre a sua saúde e ter de volta sua autoestima. Vamos acompanhar os desenvolvimentos nesse setor em busca de oportunidades de investimento, e também com nossos sinceros desejos que esses medicamentos possam trazer a prometida melhoria de vida para significante parcela da população mundial.
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Tanto a alquimia quanto o emagrecimento representam viagens de transformação. Ambos requerem paciência, dedicação e um compromisso com o autoconhecimento. E, talvez o mais importante, ambos nos lembram de que o verdadeiro “ouro” não é apenas o resultado, mas a pessoa que nos tornamos ao longo da viagem.
Por fim, é muito importante destacar que as informações contidas nesse documento não representam recomendação de investimentos nas companhias mencionadas ou recomendação dos medicamentos. Leitores interessados nos medicamentos mencionados devem procurar um médico especialista para esclarecimentos; aqueles interessados nos ativos devem procurar um assessor de investimentos habilitado.
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