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O retorno da Europa ao protagonismo geopolítico

O filme Gladiador (2000), dirigido por Ridley Scott e estrelado por Russell Crowe e Joaquin Phoenix, é um épico que acompanha a trajetória de Maximus, um general romano traído pelo ambicioso imperador Cômodo. Forçado a se tornar um gladiador, ele luta por sobrevivência e vingança nas arenas de Roma. Aclamado pela crítica e pelo público, o filme conquistou cinco Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Russell Crowe, consolidando-se como um dos grandes sucessos cinematográficos de sua época.

Por que escolhemos esse filme como tema para o Kinea Insights?

A história de Gladiador mostra como até o império mais poderoso pode se tornar vulnerável quando enfrenta desafios inesperados e uma liderança vacilante. De forma semelhante a Europa, após décadas de paz no pós-Guerra Fria, foi desperta de sua complacência pela invasão russa na Ucrânia.

A sensação de segurança que prevalecia no continente – ancorada na ordem internacional liderada pelos Estados Unidos – levou à redução dos gastos com defesa, mas o cenário geopolítico atual deu lugar a uma nova realidade, em que a Europa deve reavaliar suas prioridades.

Como o herói de Gladiador, que precisa retomar as armas para defender Roma, a Europa hoje se vê “de volta à arena”, confrontando sua vulnerabilidade e a necessidade urgente de fortalecer suas defesas para proteger sua liberdade e seus valores. Em outras palavras, o continente precisa redescobrir sua força militar adormecida, sob pena de ver ruir a paz duramente conquistada.

Cenário geopolítico atual

A invasão russa da Ucrânia em 2022 provocou uma mudança profunda na postura de segurança do Ocidente. Os Estados Unidos – por décadas o guarda-chuva militar sob o qual a Europa se abrigou – agora pressionam abertamente os aliados europeus a aumentarem seus gastos militares.

Esse clamor norte-americano não é novo, mas atingiu um novo patamar: no início de 2025, o presidente Donald Trump chegou a sugerir que os membros da OTAN destinassem 5% do PIB à defesa, muito acima da meta histórica de 2%.

Conflitos historicamente geraram mudanças de postura duradouras. Em 2014, por exemplo, ano da anexação da Crimeia pela Rússia, os gastos médios de defesa dos membros europeus da OTAN estavam em apenas 1,47% do PIB, com vários países bem aquém da meta da OTAN de 2%. A agressão russa desencadeou uma inflexão: na última década, o continente registrou um aumento nominal de mais de 50% nos dispêndios militares, liderado por incrementos substanciais da Alemanha.

Ainda assim, a disparidade em relação aos EUA permanece grande. Hoje, a Europa (mais Canadá) responde por cerca de US$ 580 bilhões do orçamento militar anual da OTAN, enquanto os EUA sozinhos contribuem com aproximadamente US$ 968 bilhões. Em outras palavras, os europeus somados – apesar de terem PIB comparável ao dos EUA – ainda aportam cerca de um terço dos recursos da aliança, reflexo de décadas de subinvestimento.

Alguns aliados, especialmente os do Leste, já ultrapassam em muito a antiga meta de 2%, enquanto potências tradicionais da Europa Ocidental ainda correm para atingi-la.

A Polônia, por exemplo, disparou seus gastos para 4,1% do PIB, tornando-se líder na OTAN em esforço militar, seguida pela Estônia com 3,4% – percentuais que superam até mesmo os dos Estados Unidos (cerca de 3,4%). Em contraste, países como a Itália, com 1,5% do PIB em defesa, estão entre os diversos membros que ainda não cumprem nem a meta atual, ilustrando as lacunas a serem fechadas.

Essa movimentação sem precedentes reflete a inquietação crescente nas capitais europeias conforme a nova administração Trump em Washington dá sinais de reduzir o compromisso dos EUA com a segurança do continente – inclusive anunciando a suspensão de parte da assistência militar à Ucrânia. Essa assistência militar norte americana é bem relevante, sendo mais de 40% dos €170 bilhões destinados à Ucrânia até o momento.

Em suma, se nos anos 2000 discutia-se se a UE poderia um dia dispensar a proteção americana, em 2025 essa questão deixou de ser teórica: o Ocidente, liderado pelos europeus, está efetivamente se rearmando e redefinindo as bases de sua segurança coletiva em resposta às lições duras da guerra na Ucrânia.

Eleições na Alemanha e impacto no cenário de segurança

Nenhum país simboliza mais essa guinada do que a Alemanha, coração econômico da Europa e tradicional pilar relativamente pacifista desde o pós-Guerra.

As eleições alemãs realizadas em fevereiro de 2025 trouxeram uma mudança significativa no comando do país: a vitória do partido conservador CDU/CSU marcou a ascensão de Friedrich Merz ao poder, desalojando a coalizão de centro-esquerda que governava desde 2021.

O resultado desencadeou negociações para uma coalizão que marcou os anos de Angela Merkel no governo alemão. A Grande Coalizão, como é chamada, é a união entre os partidos conservadores e social-democratas (SPD), que, apesar de rivais nos últimos anos, agora voltam a se unir pela urgência de enfrentar os desafios nacionais de segurança e economia.

Já em março, antes mesmo da formação oficial do novo gabinete, CDU/CSU e SPD chegaram a um acordo histórico para criar um fundo de €500 bilhões voltado à infraestrutura e para a retirada de parte do gasto de defesa do teto constitucional (todo gasto de defesa acima de 1% estaria fora do teto pela nova proposta), o que exigirá rever as rígidas regras fiscais do país.

Só o fundo de infraestrutura é equivalente a quase 10% do PIB alemão. Se somarmos ao que se pretende fazer de gastos em defesa chegamos a quase 20%. Este movimento sinaliza uma disposição inédita de afrouxar a austeridade fiscal alemã que vigora desde a criação do ‘freio de dívida’ no governo Merkel.

“Diante das ameaças à nossa liberdade e paz no nosso continente, a regra que vai reger a nossa segurança nacional será: custe o que custar” – afirmou Merz em suas redes sociais. A referência explícita a “custe o que custar” em matéria de defesa evoca a seriedade com que a nova liderança encara a situação, fazendo referência direta ao compromisso incondicional que o então presidente do BCE, Mario Draghi, assumiu para salvar o euro em 2012 – só que desta vez aplicado ao âmbito militar.

A disposição alemã de abrir os cofres para tropas e armamentos confere credibilidade aos apelos da OTAN por maior compartilhamento de encargos. Além disso, ao ancorar o rearmamento em mudança constitucional, a Alemanha sinaliza que esta não é uma agenda de governo transitória, mas um novo pacto de Estado.

O Rearmamento da Europa e aumento dos gastos militares

A guerra na Ucrânia expôs vulnerabilidades críticas na defesa europeia, resultado de anos de baixa prioridade ao setor. Além da redução do efetivo militar ao longo dos anos, os países europeus carecem de capacidades essenciais em diversas áreas.

Uma das lacunas mais evidentes está em defesa aérea e antimísseis de longo alcance, uma fragilidade que os ataques russos tornaram impossível de ignorar.

Ao comparar as principais aeronaves militares, por exemplo, a superioridade tecnológica do F-35 americano sobre seus pares europeus é clara, especialmente em furtividade e consciência situacional, fatores essenciais para os conflitos atuais.

Esse déficit tecnológico deve manter a dependência europeia a empresas americanas como RTX, Lockheed Martin e Northrop Grumman, principais fornecedoras do F-35, que historicamente recebe pedidos do mundo inteiro.

Além disso, em sistemas de defesa antimísseis de longo alcance, a Europa não produz nada comparável aos Estados Unidos.

Os novos pacotes de defesa tentam responder a essas importantes lacunas. A Alemanha, por exemplo, já anunciou planos de adquirir sistemas modernos de defesa antiaérea de alto alcance – como o Arrow-3 e unidades adicionais de Patriot – e de investir em drones de combate, helicópteros e comunicações encriptadas, componentes essenciais para atualizar as forças armadas ao padrão do século XXI.

Outras nações estão seguindo a mesma trilha. A Polônia, em meio ao maior programa de rearmamento de sua história recente, vem comprando em escala maciça sistemas Patriot dos EUA e caças F-35, além de munições. Com essas aquisições, Varsóvia pretende dobrar suas forças armadas em poucos anos, consolidando sua posição como potência militar emergente.

Além desses segmentos, a fragmentação da indústria europeia dificulta avanços no setor de defesa como um todo. Um exemplo desse problema foi o desenvolvimento do caça europeu. Em 1983, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha e Itália iniciaram um projeto conjunto, o Eurofighter. No entanto, após anos de discussões e divergências sobre requisitos de cada país, a França se retirou do acordo, e desenvolveu um caça separadamente, o Rafale. Como resultado, surgiram dois programas paralelos, ambos ainda em produção, mas sem sinergia.

Essa falta de coordenação ficou evidente no conflito entre Rússia e Ucrânia, no qual o reabastecimento tem sido um desafio, mesmo para produtos mais simples, como sistemas de munição.

O processo de reconstrução da defesa europeia será estrutural e duradouro, em todas as áreas. Mas classificamos como os pontos essenciais e mais imediatos, devido à defasagem tecnológica e baixos estoques, dois segmentos: sistemas de defesa aéreos e sistemas de munições.

Corrigir essas deficiências exigirá investimentos significativos, que além de fortalecer a segurança do continente, impactarão diretamente empresas do setor.

Para se ter noção do impacto do pacote de defesa nas diferentes empresas, vamos primeiro entender o adicional de gastos por ano no cenário de aumento do percentual do PIB gasto em defesa:

Note que o aumento anual até 2030 seria em torno de 75 bilhões de euros com a nova medida, no cenário de chegar ao gasto de 3,2% do PIB com defesa. O impacto desse adicional deve ser bem maior nas empresas europeias (Rheinmetall, Leonardo, Thales e BAE), apesar de terem receitas menores, devido ao seu alto percentual de exposição à Europa.

Esperamos que cerca 40% do total gasto em defesa anualmente vá para equipamentos. Com isso, assumindo manutenção da participação de mercado, podemos ver a alta magnitude do impacto nas empresas europeias.

Para a Rheinmetall, o pacote de gastos é o mais significativo, o que basicamente justifica a sua performance de mais de 120% ao longo desse ano. Mesmo após essa performance, mantivemos a posição e visão construtiva na companhia e nas demais europeias, além das americanas responsáveis por produzir as maiores lacunas da Europa. Nossa visão é que o mercado ainda não precificou o cenário de mais de 2,5% do PIB europeu da OTAN gasto em defesa em 2030, o que, na nossa opinião, tem se tornado cada vez mais provável.

A busca por maior produtividade: pacote de investimentos em infraestrutura na Alemanha

No Kinea Insights “A Metamorfose”, de Abril/2024, discorremos sobre o declínio da indústria alemã, antes uma força motriz do continente e que entrara em crise devido à perda de produtividade e, consequentemente, competividade global.

Parte central da resposta alemã à sua perda de produtividade e aos recentes choques geopolíticos é, além dos gastos com defesa, um robusto pacote de investimentos de cerca de €500 bilhões voltados a atualizar a infraestrutura alemã. Trata-se de uma injeção fiscal sem precedentes na história recente alemã, abrangendo desde a renovação de estradas, ferrovias e pontes até melhorias em redes de transmissão elétrica e telecomunicações.

A conjunção entre investimentos civis e militares não é casual: a guerra na Ucrânia evidenciou também que infraestrutura e defesa estão interligadas. Por exemplo, a capacidade de transportar rapidamente tropas e equipamentos através da Europa Oriental depende de ferrovias e rodovias adequadas, pontes reforçadas e coordenação logística eficiente.

Assim, ao revitalizar suas autoestradas, ampliar ferrovias de alta velocidade e aprimorar portos e aeroportos, a Alemanha não apenas impulsiona sua produtividade econômica como também fortalece a resiliência e prontidão militar de toda a OTAN no teatro europeu.

Do ponto de vista econômico, o estímulo keynesiano representado por quase um trilhão de euros em obras e projetos poderá revigorar a estagnada economia alemã – que flertou com a recessão no último ano.

Os mercados financeiros já reagiram a essa perspectiva: o anúncio deste enorme plano de expansão fiscal alemão desencadeou uma venda massiva de títulos em diversos países, elevando os juros das dívidas soberanas na Zona do Euro e valorizando as moedas europeias em relação ao dólar norte-americano.

O pacote de infraestrutura é um duplo recado: internamente, de que a Alemanha fará o necessário para consertar suas fundações econômicas e assegurar prosperidade de longo prazo; externamente, de que mesmo a nação europeia mais avessa a déficits entende agora que investir em força, seja militar, seja econômica, é investir em segurança.

No contexto da União Europeia, a decisão alemã de ampliar maciçamente investimentos estratégicos reforça a posição do país como pilar central do bloco. Uma Alemanha com infraestrutura modernizada e robusta tende a aumentar a competitividade e o crescimento de toda a UE, dada a integração das cadeias de suprimentos e do mercado comum.

Além disso, Berlim abre caminho para debates europeus sobre maior flexibilidade fiscal coletiva. Já há vozes influentes, como França e os países bálticos, propondo empréstimos conjuntos da UE para financiar a reconstrução das defesas continentais – uma ideia semelhante à adotada para o fundo de recuperação pós-pandemia.

Em última análise, o pacote alemão de infraestrutura aumenta o apetite por investimentos em toda a Europa, ao demonstrar que mesmo a rigorosa política econômica germânica cede espaço diante de imperativos de segurança.

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Conclusão – O retorno do gladiador europeu

No desfecho de Gladiador, o protagonista Maximus, ferido, mas vitorioso, consegue deter a ameaça personificada pelo imperador Cômodo e restabelecer a esperança de dias melhores para Roma.

A metáfora é poderosa para a Europa atual. Após anos se apoiando nos EUA para garantir sua paz, o continente entende que precisa pegar em armas (no sentido figurado e literal) para salvaguardar seu futuro.

Não se trata de belicismo ou voluntarismo cego, mas de reconhecer que liberdade e segurança exigem vigilância e preparo constantes. Assim como no filme Roma precisava de um guardião disposto a lutar na arena para proteger seus valores, a Europa de hoje precisa assumir o papel de protagonista na proteção de si mesma.

Os próximos capítulos dirão quão efetiva será essa resposta ocidental em dissuadir novas agressões e manter a paz. Por ora, ao menos, ficou claro que o destino da segurança europeia está, mais do que nunca, em suas próprias mãos.

Esse talvez seja o legado mais duradouro da crise atual: uma Europa que, ao reinventar sua postura de defesa, ecoa o lema do estoico imperador Marco Aurélio, dito por Maximus no filme – “irmãos, o que fazemos na vida, ecoa na eternidade” – na busca renovada por paz e estabilidade em seu tempo.

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