Quando o bronze vale ouro: O que é pensamento contrafactual?
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Por que medalhistas de bronze parecem mais felizes do que os de prata? Não tem sido incomum vermos esse tipo de cena nos pódios das Olimpíadas atuais. Em 1995, os psicólogos Medvec, Madey e Thomas realizaram um estudo em que os estudantes da graduação da universidade Cornell atribuíam notas de felicidade aos medalhistas olímpicos das Olimpíadas de 1992. O resultado foi consistente: medalhistas de bronze aparentam maior felicidade no pódio.
Qual a explicação desse comportamento? Porque, racionalmente, um 2º lugar é melhor que um 3º lugar. A resposta dos autores para esse fenômeno é o pensamento contrafactual. O medalhista de prata poderia ter ganhado o ouro olímpico, o ápice da carreira do esportista, enquanto o medalhista de bronze poderia ter ficado fora do pódio.
O pensamento contrafactual já havia sido explorado anteriormente por Daniel Kahneman e Amos Tversky, ao desenvolverem o que foi chamado de “prospect theory”. Os seres humanos, em geral, apresentam algumas características que contradizem a teoria clássica de utilidade. A primeira, está relacionada à aversão ao risco. Imagine os seguintes problemas (exemplos tirados do livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar), qual você escolheria?
- Receber R$ 900 com certeza OU entrar em uma aposta com 90% de ganhar R$ 1000.
- Perder R$ 900 com certeza OU entrar em uma aposta com 90% de perder R$ 1000.
Para um agente racional, premissa da teoria clássica de utilidade, as duas opções são espelhos e o agente deveria optar pela mesma opção (seja ela apostar ou receber/perder o valor com certeza). O problema é que, na maioria das vezes, as pessoas preferem a certeza do valor na opção 1 e apostar na opção 2. A perda tem um valor maior para as pessoas do que o ganho equivalente, e, portanto, as pessoas se tornam “risk seeking” quando as opções são ruins.
O segundo ponto do “prospect theory”, relacionado ao exemplo das medalhas, se dá pelo ponto de referência inicial. Veja mais esses dois problemas, pense novamente em qual você escolheria:
- Você recebe R$ 1000. Em adição ao valor já recebido, você pode escolher entre: 50% de chance de ganhar R$ 1000 OU ganhar R$ 500 com certeza.
- Você recebe R$ 2000. Em adição ao valor já recebido, você pode escolher entre: 50% de chance de perder R$ 1000 OU perder R$ 500 com certeza.
Na teoria clássica de utilidade esses 2 problemas são intercambiáveis, em ambos a pessoa sairia com a certeza de ter ganhado R$ 1500 ou entraria em uma aposta para sair com R$ 1000 ou R$ 2000. O problema, novamente, é que as pessoas possuem comportamentos diferentes ao se depararem com esse problema. A maioria prefere a certeza dos R$ 500 no problema 1 e apostar no problema 2.
Qual a diferença? O ponto de referência. Para se chegar nos R$ 1500 no problema 1, os R$ 500 representam um ganho. Já no problema 2, para se chegar nos mesmos R$ 1500 finais, a pessoa teria uma perda de R$ 500. Exatamente o mesmo mecanismo por trás do pódio olímpico. Para ganhar um bronze o esportista tem que ganhar uma partida, entrando no pódio, já para ganhar uma medalha de prata, ele teve que perder o ouro.
Em gestão de investimentos temos que ficar sempre atentos aos vieses comportamentais. Estudos mostram que quando investidores estão perdendo, existe a tendência natural a tomar mais riscos para si (“risk seeking”), por exemplo. Muitas vezes mantém-se uma posição perdedora na carteira por mais tempo do que deveria, mesmo que as condições tenham mudado. Da mesma forma, encerra-se uma posição vencedora cedo demais (pense no segundo problema descrito relativo à referência inicial).
Na Kinea, tanto em nosso processo de investimento, como na gestão de risco, nos questionamos constantemente se não estamos caindo nessas armadilhas comportamentais.
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No Kinea Reflexões da próxima semana iremos voltar a debater o problema da Racionalidade Limitada e como procurar evitá-lo.
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